A PEDAGOGIA DA NEGAÇÃO
Alguns professores privilegiam o caminho
das aprendizagens mecânicas quando atuam junto aos alunos que apresentam
deficiência intelectual. Ao invés de apelar para situações de aprendizagem que
tenham raízes nas experiências vividas pelo aluno, atividades essas capazes de
mobilizar seu raciocínio, propõem atividades baseadas na repetição e na
memória. Frequentemente, essas atividades são desprovidas de sentido para os
alunos. Esses professores privilegiam o caminho das aprendizagens mecânicas sob
o pretexto de que os alunos os quais apresentam deficiência intelectual
manifestam numerosas dificuldades nos processos de aprendizagem, que eles agem
pouco no mundo no qual evoluem e enfim, sob o pretexto de que os alunos
antecipam o fracasso e não se apoiam sobre seus conhecimentos quando estão em
situação de aprendizagem ou de resolução de problemas.
Agindo desta maneira, tais professores
se comportam como se não reconhecessem no aluno que apresenta deficiência
intelectual um sujeito capaz de crescimento e de afirmação. Seu acompanhamento
pedagógico parece respaldado por uma concepção de aluno que se apoia sobre a
ideia de insuficiência ou de lacuna, mesmo de falta no que diz respeito ao
raciocínio. Os professores não reconhecem nesse aluno capacidades cognitivas as
quais convém mobilizar para favorecer a melhor interação com o meio onde ele
vive. Consequentemente, eles negam um aspecto absolutamente fundamental do
desenvolvimento humano, a saber, o intelectual. Em suma, eles se fecham em uma pedagogia
da negação. Uma pedagogia que não reconhece o potencial dos alunos, sobretudo
daqueles que apresentam deficiência intelectual e que, consequentemente, causa
prejuízos para as suas aprendizagens e autodeterminação.
A Pedagogia da negação encontra sua
fonte na superproteção, que é um parente próximo da rejeição. A superproteção
de um professor em relação a um aluno que apresenta deficiência intelectual
pode se manifestar de várias maneiras. Por exemplo, quando o professor propõe
frequentemente atividades que não provocam dificuldades verdadeiras para o aluno,
com medo que ele perca a motivação para aprender ou com receio que ele não seja
capaz de realizar a atividade. Quando aprova o trabalho do aluno sem que o
aluno tenha demonstrado
um esforço para a realização dele. Quando resolve o problema no lugar do aluno,
logo que ele apresenta dificuldades. Quando o professor não desafia o aluno,
provocando dúvida, contrapondo ideias. Quando o professor coloca na mochila do
aluno o material necessário para os deveres e para as lições de casa ou quando
resolve a tarefa para o aluno, ele está atuando sob o princípio da pedagogia da
negação. É importante considerar que uma das grandes responsabilidades do
professor de sala de aula, bem como do professor do AEE, consiste no
desenvolvimento intelectual e da autonomia do seu aluno.
O desenvolvimento intelectual do aluno
com deficiência deve ser objeto de preocupação constante do professor. A
inteligência deve ser estimulada e educada para que ele possa evoluir. E o aluno
que apresenta deficiência intelectual não escapa à regra. Mesmo o aluno que
apresenta uma necessidade de apoio importante ou intenso, pode tirar proveito
de intervenções educativas destinadas a favorecer ou estimular o
desenvolvimento de suas estruturas intelectuais. Os exemplos, neste sentido,
são numerosos na literatura científica. Diante dessa realidade, é inadmissível
que a Pedagogia da negação continue a fazer adeptos entre os professores que
têm a responsabilidade pela educação dos alunos. Um exemplo de atividades
inadequadas é quando o professor impõe aos alunos longos exercícios de
multiplicação com ajuda de tabuadas sem que tenham construído o sentido da
multiplicação. Os alunos podem dar respostas corretas apoiados apenas na
tabuada, de forma mecânica, copiando resultados, sem compreender o sentido da
operação.
Nem todos os alunos que apresentam
deficiência intelectual chegam a assimilar as operações de multiplicação e de
divisão e a compreender o sentido destas. Este professor seria mais bem sucedido
em sua ação pedagógica, se tivesse como objetivo o desenvolvimento lógico-matemático
de seus alunos, se propusesse atividades de aprendizagem próximas aos
interesses deles com base nas experiências vivenciadas por eles. Deste modo, o professor,
provavelmente, teria contribuído mais para o desenvolvimento dos alunos e permitido
a eles aprendizagens mais significativas. A qualidade da vida social e
profissional das pessoas que apresentam deficiência intelectual repousa em boa
parte sobre bases que são o desenvolvimento intelectual e as aprendizagens
significativas que teve na escola e fora dela.
Quando o professor percebe a capacidade
de o aluno aprender, ele empreende ações que possibilitam essa aprendizagem.
A Educação Especial na Perspectiva da Inclusão Escolar
O Atendimento Educacional Especializado para Alunos com
Deficiência Intelectual
Marcos Seesp-Mec Fasciculo II.qxd 10/11/2010 10:12 Page 7,8.
Preste atenção!
Deficiência
intelectual (DI) é um termo que se aplica quando uma criança ou pessoa apresenta certas limitações, tanto em
seu funcionamento mental quanto no desempenho de tarefas comuns, como as de
comunicação, cuidado pessoal, relacionamento social etc. Logo, pessoas com DI
são mais lentos para aprender e se desenvolver.
Revista Guia Prático para Professores de Ensino Fundamental
I. Ed. Escala Educacional. Número 107.
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